Vários historiadores mencionam a fervorosa veneração a Maria Santíssima, cultuada no Brasil desde o dia do seu descobrimento. As primeiras imagens de Maria Santíssima que aqui chegaram, trazidas pelas caravelas portuguesas, foram as de Nossa Senhora da Esperança e Nossa Senhora da Piedade. O Brasil nasceu sob a proteção da Virgem Maria. É conhecido, também, o fato de que, no Brasil, tanto os missionários jesuítas quanto os frades capuchinhos (barbadinhos), desde o século XVII, eram devotos ao Coração de Maria e ao Coração de Jesus e procuravam inspirar esta devoção no povo nativo, por cuja catequese eram responsáveis.
Em 1725, existia na Igreja de Nossa Senhora da Penha de França, no Recife, pertencente aos frades capuchinhos, um altar com uma linda imagem da Virgem Maria com o Menino Jesus nos braços, conhecida como Nossa Senhora dos Divinos Corações. Por volta de 1710, esta imagem já era venerada pelos indígenas nas missões católicas existentes no Recife. A escultura de 1,5 m, talhada em madeira, era considerada muito original porque a virgem apresentava traços indígenas e o Menino parecia um mestiço. Ambos exibiam seus corações, feitos em ouro e cercados por raios luminosos, como símbolo do amor. Para vários críticos de arte, o estilo da imagem indicava que ela havia sido esculpida no Brasil, por artistas nativos que criaram um padrão diferente do europeu. Alguns historiadores chegaram a supor que esta imagem, na qual se notam indícios dos três grupos étnicos formadores do povo brasileiro, teria sido inspirada, ou encomendada a algum artista nativo, pelo santo missionário jesuíta, Padre José de Anchieta, que devotava a Maria Santíssima notável veneração filial. A escultura teria sido venerada nas missões jesuítas do início do século XVII, antes de sua extinção em 1633, quando foram destruídas pelos holandeses protestantes que se havia apoderado de Pernambuco. A imagem foi, por certo, descoberta pelos missionários capuchinhos franceses, em algum lugar remoto e abandonado, por volta de 1641. Isto explica que, em 1725, fosse encontrada, como dito acima, na igreja da Ordem dos capuchinhos de Nossa Senhora da Penha de Franca, no Recife, onde foi fervorosamente venerada até 1828 sob a denominação já conhecida de Nossa Senhora dos Divinos Corações. Os adornos que a enfeitavam, oferta daqueles que a ela recorriam, eram claros indícios da gratidão dos fiéis pelas graças obtidas através da invocação a esta milagrosa imagem.
Esta imagem de Nossa Senhora dos Divinos Corações, proclamada pelos frades missionários Protetora das Missões, era queridíssima tanto pelo povo do local e pelos peregrinos, como pelos frades capuchinhos que dirigiam a Igreja de Nossa Senhora da Penha de França, no Recife. Entre os missionários deste grupo de capuchinhos havia um frade napolitano, Frei Joaquim d´Afragola, que dedicava especial devoção a esta Nossa Senhora dos Divinos corações. Em 1828, ele e seus companheiros foram ameaçados de repatriação por grupos de nacionalistas brasileiros que, depois da Independência do Brasil em 1822, não queriam estrangeiros no país. Também em 1828, rompeu em Recife “um movimento quase revolucionário em que os sediciosos, furiosos, atacaram as pessoas e cousas da Igreja, nada poupando, por santo e venerável que “ (Armas, 1932). Temendo, assim, a ação dos iconoclastas, Frei Joaquim d´Afragola e seu grupo de frades capuchinho decidiram proteger a imagem por eles venerada e a enviaram, em sigilo, com todos os seus adornos, para Nápoles, mármore e de madeiras douradas, bem como de outros esplendores que abrilhantavam o culto á Virgem Mãe de Deus Brasileira.
Como a Itália não estava ainda unificada, a cidade de Nápoles, nesta época, fazia parte do Reino das Duas Sicilias, sob o poder da dinastia francesa dos Bourbon. Neste Reino, “as manifestações sobrenaturais da prodigiosa imagem exilada ( de Nossa Senhora dos Divinos Corações) tiveram seu início logo após sua entrada no porto de Nápoles” (Armas, 1932). O atendimento ás preces diárias dos napolitanos que frequentavam a Igreja de Santo Efrém levou-os a dirigir orações, render ação de graças e dedicar, cada vez mais, especial devoção á Santa originária do Brasil. Os títulos Maria do Brasil, Madonna del Brasile e Virgem Mãe de Deus Brasileira ( Armas, 1932) afirmaram-se em Nápoles, com reconhecimento aos muitos milagres atribuídos á Santa que procedia do Brasil. Os fiéis expressavam seus agradecimentos com generosidade, de forma que, em pouco tempo, foi possível aos frades capuchinhos construir uma suntuosa capela na sua igreja, com altar e nichos ornados demármore e de madeiras douradas, bem como de outros esplendores que abrilhantavam o culto á Virgem Mãe de Deus Brasileira.
Na noite de 21 para 22 de fevereiro de 1840, um violento incêndio na Igreja de Santo Efrém, o Novo, destruiu a maior parte da igreja, inclusive o riquíssimo altar onde estava a imagem da Madonna del Brasile. “As chamas devoradoras, encontrando por toda parte madeira seca e frágeis abóbadas, atingiu todo o teto, o qual, incandescente, ruiu precisamente sobre o altar e o nicho da Santíssima Virgem do Brasil […]” (Moraes, 1984) O Padre Provincial não autorizou que os bombeiros a retirassem de lá, dizendo.“[…] ela pode nos salvar a todos […] e salvar-se também” (Armas, 1932). E a Madonna del Brasile, com seu leve vestido branco de seda e seu manto azul todo bordado em relevo, escapou ilesa do violento fogo que deixou apenas algumas marcas chamuscadas na imagem do Santo Menino enquanto destroçava tudo á sua volta. A notícia do prodígio espalhou-se pela cidade e tanto o povo como altas personalidades foram pessoalmente verificar, em romaria que durou várias semanas, o milagre sua esposa, Dona Maria Teresa Isabel da Áustria, foram também venerar a sagrada imagem. O Monarca, que era um dirigente dinâmico e progressista, impressionado com a evidência do milagre, ordenou a imediata reconstrução da igreja. Durante todo o período da reconstrução, a imagem continuou a ser visitada por milhares de peregrinos. Estes devotos em muito contribuíram para a notável rapidez da reconstrução da igreja, que estava totalmente destruída pelo incêndio, e em dezesseis messes a Madonna del Brasile novamente reinava em um belo altar, sendo a igreja reaberta ao público com solene consagração.
Devido ao prodigioso salvamento do terrível incêndio e também como resultado da divulgação de vários outros milagres da Madonna del Brasile, que resultaram em contínua veneração das multidões de peregrinos e de pessoas da nobreza, ocorreu em Nápoles uma grande festa para realizar a Coroação de Nossa Senhora do Brasil, em 11 de novembro de 1871. Por especial recomendação do Cabido do Vaticano, que nomeou o Arcebispo de Nápoles como seu delegado, a celebração na capital do Reino das Deus Sicilias foi gloriosa e solene, com procissão pelas ruas populosas, e grandes festividades com música especial, ladainhas e bênçãos em louvor da Madonana. A imagem brasileira, querida dos frades capuchinhos, passou oficialmente a ser conhecida na Europa com o título de Nossa Senhora do Brasil depois de receber a coroa de ouro instituída pelo Vaticano. O fervor da devoção foi sempre crescendo e Nossa Senhora do Brasil continuou realizando notáveis milagres. Evitou o alastramento de uma epidemia de cólera na cidade de Nápoles e comprovadamente curou muitos doentes, tanto pessoas famosas como gente humilde. Em 1867, devido á transformação em cárcere do convento onde ficava a Igreja de Santo Efrém, o Novo, a imagem foi conduzida para a Igreja de Santo Efrém, o Velho, também em Nápoles, onde permanece devotamente cultuada pelos napolitanos.
Foi por acaso que o Bispo brasileiro, Dom Frederico Benício de Souza Costa, descobriu em 1923 a existência de Nossa Senhora do Brasil no Convento de Santo Efrém, em Nápoles. A narração deste encontro foi publicada em 1924 pela Revista Mensal de Assuntos Marianos em Belém do Pará. Conta o Senhor Bispo que, ao visitar o convento, ouviu dos frades capuchinhos que eles lá veneravamNossa Senhora do Brasil. A surpresa para o Senhor Bispo foi grande, pois pensou ele: “Com? Nossa Senhora do Brasil é venerada em Nápoles e desconhecida em nossa terra?” (Armas, 1932). Em Roma fora publicado também, na Revista Roma e a Terra Santa, um texto do Padre José de Castro contando que um certo Frei Arsênio estava empenhado em conseguir a transladação para o Brasil da imagem da milagrosa Santa eu aqui fora esculpida e aqui fora muito reverenciada pelo povo, embora sob outra denominação. Frei Arsênio era o novo nome do Senhor Bispo Frederico Costa, que havia renunciado ao alto cargo eclesiástico e se tornara frade carmelita.
No Brasil, a notícia sobre a descoberta da Nossa Senhora do Brasil venerada em Nápoles causou entusiasmo e resultou em uma campanha para que se obtivesse o translado da imagem para o país de sua origem. Nada foi conseguido neste sentido, mas o conhecimento da existência da imagem, a força e variedade de seus milagres e o prestígio de sua Coroação, com o reconhecimento do Vaticano, propiciaram a ideia de que fosse construída uma igreja Matriz em sua honra no Rio de Janeiro.
Foi decidido pelo Cardeal Dom Joaquim Arcoverde que esta igreja ficaria no novo bairro da Urca. No dia 1º de janeiro de 1930, no terreno recebido pela Igreja Católica como doação, foi colocada a pedra fundamental da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Brasil, a primeira no país a reverenciar a Virgem Mãe de Deus Brasileira. A sua construção foi concluída em 17 de dezembro de 1933 e em 8 de setembro de 1934 foi criada a Paróquia de Nossa Senhora do Brasil.
No anos de 1953 e 1954, houve o recrudescimento de uma forte campanha da Ação Católica para trazer de volta ao Brasil a imagem original de Nossa Senhora do Brasil, com o argumento de que já dispunha o país de uma igreja a ela devotada.
O segundo Pároco desta Matriz, Padre Emmanuel Dornellas Barbosa, na condição de Assistente-Geral da Confederação Católica Arquidiocesana, e com o apoio do Cardeal Dom Jaime de Barros Câmara, desenvolveu negociações com os frades capuchinhos para adevolução da bela imagem ao seu país de origem. Longa correspondência, muitas publicações em jornais brasileiros, e o envolvimento de altas personalidades do clero não lograram obter os resultados pretendidos.
As duas imagens de Nossa Senhora do Brasil encontradas na Matriz do Rio de Janeiro, bem como as outras imagens existentes em outras igrejas posteriormente a ela dedicadas neste país, são cópias inspiradas naquela que permanece na Igreja de santo Efrém, o Velho, em Nápoles.
Conforme consta no Livro de Tombo, a Matriz da Urca possui duas relíquias provenientes da milagrosa imagem original. Ambas são pequenas parcelas do manto que, cobrindo a Madonna del Brasile, foi milagrosamente salvo do incêndio que destruiu a Igreja de Santo Efrém, o Novo, em Nápoles. A primeira relíquia foi oferecida à Matriz da Urca, em 2 de julho de 1945, pelo Padre Gregório Comanseto, Capelão da Força Expedicionária Brasileira, que a trouxe de Nápoles, e encontra-se visível perto da porta de entrada da cripta de Santa Teresinha. A segunda foi trazida da Igreja de Santo Efrém, o Velho, e presenteada à Igreja de Nossa Senhora do Brasil, na Urca, por seu segundo Pároco, Padre Barbosa, que a entregou à veneração dos fieis em 8 de dezembro do Ano Santo de 1950, e que se encontra em um relicário de madeira trabalhada, junto ao altar-mor da igreja. Estas valiosas dádivas representam, assim, a imagem milagrosa, tornando-a mais próxima à vida e à veneração dos brasileiros.